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Manifesto Zumbi 2025


Somos zumbis. Não tem volta. Morremos. Apenas continuamos respirando. Só há duas alternativas: ser zumbi com ou sem consciência de classe – e isso faz toda a diferença.


A centralidade já consolidada das redes sociais digitais nas interações sociais públicas já matou a vida humana como a conhecíamos minimamente. Somos a cidade em cima do que já foi uma floresta, o asfalto em cima do que já foi um rio. Entenda-me bem: não estou lamentando. Já era.


Mortovivo não lamenta. Conhecer o passado faz sentido, lamentá-lo não. Só faz sentido o que altera o que ainda está em jogo: o resto de tempo de mortevida que temos. Como queremos mortoviver este resto?


Os que fingem que o rei não está nu e tentam acreditar que ainda estão vivos apenas alimentam a máquina que nos matou. São os escravos perfeitos, os que se acham livres. O que está em jogo é se seremos zumbis escravos ou zumbis livres para perambular nossa mortovivência com alguma rebeldia (e beleza).


Para isso, é preciso adquirir consciência de classe: somos zumbis.


Mesmo os zumbis mais poderosos e bestiais, que se acham senhores dos escravos, também são zumbis. Esses ainda não perceberam que não são senhores de escravos, são no máximo capitães do mato. Eles também estão mortosvivos porque não são livres para viver com a vitalidade orgânica analógica. Não desejamos ser capitães do mato de zumbis escravos.


Ser um zumbi com consciência de classe é saber dos próprios vícios e testar limites de liberdade de escolha, tensionar as possibilidades do real com originalidade, é ser um zumbi se libertando.


Veja bem, repito, não é possível desmorrer. Um zumbi se libertando não está se libertando da morte. Já morremos. Não deixaremos de ser zumbis. Deixe de remoer isso, mas podemos nos libertar dos efeitos escravizantes dessa morte hecatômbica que nos sucedeu. Somos zumbis, não precisamos ser escravos.


Como?


Passo a passo. Desfazendo corrente a corrente. Retomar o tempo de mortevida que nos restar no que ainda couber de possibilidade de escolha.


Isto não é um manifesto idealista bonitinho. É uma expressão da lucidez do que estou fazendo. Não acho que os passos que estou dando servem de receita a ser copiada por outros, porque cada zumbi tem condições de mortevida diferentes, mas é possível que este manifesto nítido sobre o sentido do que estou fazendo possa te inspirar a criar os passos que fazem sentido para você mortoviver o que lhe for possível libertar-se da máquina de escravidão que nos massacra.


Meu perfil no Instagram e no Facebook permanecem, não vou apagá-los, para não perder (enquanto não apagarem) os conteúdos. Porém, não gastarei muito do meu tempo lá nestas ratoeiras. Voltarei a algumas soluções da década de 90, só que atualizadas para o desafio atual. Criei este blog em um site com domínio próprio. Aqui escreverei textos, entrevistarei pessoas que me parecem terem contribuições literárias valiosas, receberei textos e mídias de quem quiser enviar, publicarei os que fizerem sentido publicar. Também ficarei disponível no Telegram e no Whatsapp em um número de telefone que escancaro publicamente: +55 31 995362010 (os golpistas já sabem mesmo, melhor escancarar para você, quem me interessa, saber também). Com alguma frequência baixa e disciplinada, verei as mensagem privadas no Instagram e Facebook para quem ainda não tiver me encontrado no blog e no telefone ter uma trilha de escape para cá. Com alguma frequência, postarei no Instagram e Facebook nos stories apenas lembretes de onde posso ser encontrado, mas cuidarei de não ficar alimentando o berreiro.


Talvez eu tenha que me reacostumar a sustentar algum silêncio com o qual me desacostumei. Não será pior do que esta barulheira em que não nos entendemos mesmo.


A centralidade das redes sociais digitais criam condições que inviabilizam o diálogo social, que já seria difícil mesmo em condições ideais.


Pretendo assim ganhar tempo de mortevida para ler mais literatura, para conversar mais presencialmente ou pelo menos individualmente em ligação de som e imagem. Quem sabe até eu volte a escrever cartas manuscritas despachadas por correio. Quem sabe algum outro mortovivo se interesse em me enviar algumas cartas também.


E estes são os primeiros passos objetivos que escolhi tomar por ter compreendido que já estamos no mundo pós-apocalipse zumbi. Já morremos, não posso fazer nada sobre isso. Mas posso não ser um escravo.


A própria mente é o último refúgio. O tempo, sabemos, criamos na mente.


Se quiser vir, pense, calcule o que for melhor para você e se aproxime.


Sua zumbivivência é bem-vinda para se aproximar quando quiser. *Ilustração publicada por MariaD42530 no PixaBay



2 Comments


druijinet
Jan 28

Perdemos e morremos! Mas nada se perde no universo, o zumbí é esse resíduo, esse molho tártaro, onde a vida ganha outra forma.

Avida precisa de elementos de vida para continuar a viver.

Viveremos em outros que ainda vivem, e que sonham com uma realidade diferente


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Pois é, camarada, interessa-me justamente experimentar ao máximo este resíduo presente... Obrigado pela leitura aqui nesta esquina.

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